«Não tinhas o direito. Nem penses que tinhas o direito. Não tinhas o direito de entrar assim por mim adentro, varrer tudo o que eu tinha para debaixo do tapete, ocupar a minha vida com a tua. E depois ir embora sem um aceno, sem um “gostei de te amar”, sem um “até foi porreiro estar contigo”. Nada. Entraste, amaste, magoaste. E foste. E eu fiquei aqui, perdida, presa ao que deixaste ficar à espera de que voltasses a estar, de que voltasses para me dizer que afinal tinha sido brincadeira e que não tinhas ido embora como o cobarde que sempre foste. Metes-me nojo. Nojo. E não é por isso que deixas de ser o homem da minha vida.
Amar é quando consegues imaginar-te nos braços de quem até pode meter-te nojo. E tu metes-me nojo. Tenho nojo de algum dia ter sido tua – e ainda assim dava tudo para voltar a ser tua. Tenho nojo do teu beijo (o que eu não fazia para outra vez o teu beijo), tenho nojo do teu abraço (e parece que ainda o sinto, apertado como só ele, amado como só ele), tenho nojo de tudo o que é teu. E o pior é que tudo o que é meu ainda está disponível (falta de personalidade, eu sei; fraqueza, eu sei; mas antes uma fraca feliz do que uma forte na merda) para ti. Por mais dias que passem (já foram meses, não já?) continuo com a certeza, a mais absoluta das certezas, de que se há algo que serei até ao último dos dias será isso. Disponível para ti. Disponível para o nojo de pessoa que és, para o nojo de atitudes que tomas, para o nojo de vida que me ofereces.
Tenho-te nojo e saudades em doses iguais.
Todas as noites sou tua pela primeira vez. Fecho os olhos e a tua mão já percorre a minha pele em busca do prazer final. Até nisso eras nojento. Até nisso, na forma quase doentia (ou mesmo doentia) como procuravas o orgasmo, eras nojento (ainda serás assim com a nojenta da mulher que te dá prazer agora?). E não querias saber de mim, do que queria, do meu prazer. E (sou tão estúpida que só me apetece bater-me e depois bater-te) era assim, com esse teu desprezo, que eu me sentia amada. Era assim, com a tua total incapacidade para quereres dar-me prazer, que eu tinha prazer. Que nojo.
Tenho-te tanto nojo, amor.
Nojo das tuas palavras. Nojo do teu “adoro as tuas palavras, mas adoro mais o teu cuzinho”, nojo do teu machismo, nojo da tua maneira de me tratares abaixo de cão e de mesmo assim me fazeres sentir a cadela mais amada do mundo. Amo-te para além de toda a razão. Para além de todas as razões. E todos (e são mesmo todos) os que me dizem que não me mereces e que te devia esquecer têm razão. Tenho todas as razões para te mandar bugiar, para nunca mais querer sequer olhar para a tua cara (és tão lindo, tão lindo) nojenta. Mas fecho os olhos e és tu que vens, abro os olhos e és tu que eu encontro. E tudo o que queria era esquecer-me de ti para sempre ou ser a tua escrava (e só tu consegues fazer uma escrava sentir-se uma rainha) para sempre. Todas as razões estão contra ti. E é isso, todas as razões estarem contra ele, que pode ser o amor. Tenho nojo de te amar, meu amor.
Mas amo-te. »
By Pedro Chagas Freitas
Li este texto e fiquei sem palavras....
E é mesmo para ficar sem palavras...
ResponderEliminarO amor é fodido :)
ResponderEliminaré :)
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