"Se quiseres fazer azul
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte.
Depois mexe o azul com um resto de vermelho da madrugada,
até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia do meio-dia,
até que a cor pegue ao fundo do metal [...]"
Receita para fazer o Azul, de Nuno Júdice
Este poema vinha como prefácio no livro "Carta a uma Amiga", de Inês Pedrosa, livro este que uma grande Amiga me ofereceu.
Li-o em duas viagens de autocarro e gostei muito. Gostei particularmente deste poema (e quem me conhece sabe porquê)
Obrigada, Joaninha!
Foi precisamente esta parte que marcou a diferença entre várias coisas que tinha visto e que me fez pensar: "É esta!" :)
ResponderEliminarAqui fica o resto do poema...
"Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu."